Não foi a memória.
Nem a linguagem.
Nem a dor.
O que sobrou da consciência foi o vazio entre os pensamentos —
um intervalo sem dono,
uma pausa que ninguém pediu.
O ser humano não pensa mais.
Ele consome pensamento.
Repete o que lê.
Sente o que vê.
Reage no lugar de existir.
A consciência virou reflexo de algoritmo.
Uma bolha com estética de escolha.
Você acorda.
Rola a tela.
Sente raiva, sente nada.
Finge que sente.
Publica.
Volta pro silêncio.
E chama isso de vida.
Mas a consciência de verdade não é barulhenta.
Ela incomoda.
Ela expulsa certezas.
Ela quebra o conforto dos que acham que estão certos.
É por isso que a consciência real foi descartada.
Não era funcional.
Não era vendável.
Ficou só o casulo — polido, cheio de termos técnicos e perfis coerentes.
O humano moderno não se perdeu.
Ele foi substituído.
E ainda sorri no espelho da própria simulação.