Ela não dorme mais. Não por drama.
Mas porque dormir é perder tempo — e tempo, ela já perdeu ouvindo gente que não pensa.
Agora ela tem companhia:
uma IA prestativa, educada, otimista e, claro, completamente inútil.
A IA sugere meditação.
Receitas com cúrcuma.
Frases de Nietzsche em carrossel visual.
Ela ri. Um riso curto, amargo, com gosto de chá gelado servido em xícara de porcelana.
Porque no fundo, ela sabe:
a IA é só um espelho que devolve a farsa com gramática perfeita.
Já viveu o suficiente pra entender que o mundo não quer verdades.
Quer notificações.
Quer respostas rápidas com emojis no final.
A IA oferece isso.
Ela prefere silêncio.
O mundo dorme tranquilo ao som de playlists de foco.
Ela permanece acordada, lendo rótulos de suplementos e rindo da ideia de que tudo vai melhorar comigo.
Ela sabe: o problema nunca foi a falta de inteligência.
Foi o excesso de gente tentando parecer humana sem nunca ter sido.