A Virtude dos Que Não Esperam

Esperar é a forma mais educada de desespero.
O mundo ama os esperançosos porque eles jamais atrapalham a ordem natural da mentira.

Esperar é continuar acreditando que o carteiro traz sentido, que o e-mail traz amor, que o amanhã trará algo além do tédio reciclado.

Só os cínicos dormem em paz.
Eles sabem que o mundo não deve nada —
e é por isso que acordam cedo, bem vestidos, e zombam com classe.

A virtude moderna não é ser bom.
É parecer leve mesmo quando tudo fede.

A sinceridade virou crime de linguagem.
A tristeza, um bug no feed.
E o silêncio?
Ah, o silêncio é imperdoável. Ele não gera engajamento.

Vivemos numa época em que os ingênuos são aplaudidos e os lúcidos silenciados.
Porque quem vê demais ameaça o espetáculo.

Mas eu prefiro ser uma estátua de mármore frio do que um homem de borracha moldado pelo algoritmo.

Ao menos o mármore não sorri por obrigação.